Poesia e encantamento

Entrevista concedida em janeiro de 2000 ao site Divertudo


Márcio, qual é o seu sonho?
Tenho muitos sonhos. Um deles? Nunca parar de sonhar, mesmo quando a vida aprontar comigo.

Qual era o seu sonho, quando criança?
Dos 12 aos 17 anos, eu queria muito ser jogador de futebol e vestir a camisa oito do Fluminense. Sonhava com isso de verdade. Dormia de joelheira e uniforme. O que eu mais queria era entrar no Maracanã lotado, escutar a torcida gritar o meu nome, fazer um gol decisivo aos 44 minutos do segundo tempo, correr demais, me ralar demais, suar demais pelo meu time, jogar futebol até não agüentar mais. E as pessoas me incentivavam.
Diziam que eu jogava bem no meio campo. Eu fazia muitos gols, principalmente de trivela. Mas um problema de calcificação no joelho me impediu de jogar profissionalmente. Bem, pelo menos eu boto a culpa no joelho, né? Melhor assim. Aí acabei fazendo jornalismo, para trabalhar como repórter esportivo. Cheguei até a cobrir futebol na Rádio MEC, mas o meu negócio era mesmo escrever. E, enquanto trabalhava no jornal O Globo e na Tribuna da Imprensa, ficava sempre matutando algumas histórias.
Hoje continuo batendo uma bolinha, mas não corro como antes. Agora corro atrás das palavras. Mas fico triste quando vejo que, atualmente, muitos meninos dizem que sonham em ser jogadores de futebol. Só que, na realidade, quando eles começam a falar, a gente vê que não sonham com isso. Sonham com a fama, com o dinheiro, com as mulheres, com as badalações, com a glória. Sonham com tudo, menos em jogar futebol. Esse é um sonho pálido, sem prazer, só com finalidades. É um sonho de mentira, sem arrepio. E o sonho, para ser de verdade, tem que arrepiar.

Como foi que você virou escritor? Foi fácil?
Nada é fácil, quando somos exigentes. Acho que sempre fui escritor, mesmo antes de começar a escrever. Eu já era escritor quando temperava histórias para os amigos na infância e na adolescência. Gostava sempre de botar um molho nos casos, em tudo o que acontecia à nossa volta. Mas daí a publicar livros, a gente tem que trabalhar muito, praticar demais, e ler sem parar. Só assim você vai desenvolver um senso crítico, para saber o momento certo de enviar o seu texto às editoras ou a um agente literário, que cuida dos contratos e apresenta a obra aos editores. No meu caso, tenho uma agente. É a minha amiga Lúcia Riff, uma das mais competentes profissionais do mercado editorial brasileiro.
Depois, no caso dos livros infantis, é preciso ter um ilustrador de alto nível, para recriar a história com sensibilidade e técnica, sem fugir da atmosfera dos personagens, da trama, dos conflitos. Assim, o ilustrador tem que entrar na alma do texto, com estilo. É o que a Mariana Massarani faz tão bem. Por isso fico muito feliz de ter publicado dois livros em parceria com ela. Ao lado, ilustração de Mariana.

É verdade que você ajuda as pessoas que têm o sonho de publicar livros?
Sim, eu trabalho como consultor literário. Nesse serviço, apresento comentários críticos e sugestões editoriais para o autor desenvolver cada vez mais o potencial criativo do seu texto e aumentar as suas chances de publicação por uma editora séria. Também indico os caminhos mais profissionais para o escritor mostrar o seu trabalho aos editores certos, sem se queimar. Na etapa de análise crítica, sugiro técnicas para o autor aprimorar o seu estilo, valorizar metáforas, construir diálogos e costurar parágrafos, além de vários recursos narrativos ou poéticos.

E se alguém que estiver lendo esta entrevista ficar interessado em conversar com você? Pode? Você dá o seu e-mail?
Claro, o meu e-mail é mvassallo@uol.com.br e o meu telefone aqui no Rio é 021-21-287-1235. No ano 2000, estou organizando os meus horários para começar a visitar escolas do Rio e de outros estados. Também vai ser um prazer falar sobre o meu trabalho de escritor com a garotada. Os leitores e professores interessados também podem ligar para a editora Brinque-Book, em São Paulo, pelo 021-11-37428142, e falar com a Suzana Taves.

Qual foi seu primeiro livro publicado?
Foi A Princesa Tiana e o Sapo Gazé, também pela editora Brinque-Book, com as encantadoras ilustrações da Mariana Massarani. Esse livro foi selecionado para o Catálogo de Autores Brasileiros da Feira de Bolonha, na Itália, em 1998. Fiquei muito feliz com essa conquista.

O meu primeiro livro conta a história de amor entre uma princesa cansada dos príncipes e um sapo metido a sedutor, que se gaba de fazer as lagartixas subirem pelas paredes. Para conquistar Tiana, os príncipes chegavam em cavalos conversíveis, muitos deles montados na grana. Eram bonitos, mas nenhum se tornava infinito. Alguma coisa incomodava a princesa. E ela não sabia direito o que era. Só depois, Tiana descobre que tinha fome de magia. Uma fome que a gente só mata sendo feliz.

E o próximo? Já está saindo?
Deve sair no ano 2000, vamos ver. Ou melhor, vamos ler.

 

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